E se tivesse sido assim?

A conversa levou-nos a esquecer os minutos e estes deram lugar a horas passadas despercebidas pelas perguntas-respostas um do outro.
Como sempre, a falta de assunto ou tema de conversa nunca acontece e sem nos darmos conta, a tarde começou a perder luz em relação à noite, que se foi mostrando. Mesmo com o sol a despedir-se, não fosse o teu telemóvel tocar e certamente concentrados um no outro e no que cada um dizia, ficaríamos ali mais um bom par de horas.
Já não me lembro a razão, mas tiveste que ir.
Na despedida, os dois beijinhos da praxe e a promessa de continuarmos a conversa outro dia.
E nesse instante, do primeiro beijo, senti os teus lábios próximos dos meus e quase que juro que de um modo intencional...
Fiquei preso a esse instantâneo e foi já com o ruído do motor do teu carro a fazer-se soar, que dei conta que me dizias adeus, enquanto o carro te afastava de mim.
Peguei no livro, no telemóvel e segui em direcção ao meu carro. Ao abrir a porta, pelo reflexo do vidro, reparei na minha expressão: uma espécie de sorriso bem disposto...
Meti o livro e a carteira no porta-luvas do carro e voltei a fecha-lo. Andei uns minutinhos a pé, ali pelo passadiço que se prolonga até à zona das dunas e sentei-me mesmo próximo dos degraus que dão acesso à areia.
Acompanhei a despedida final do sol e durante todo o tempo, não deixei de pensar no nosso "quase" beijo.
Foi mesmo assim? Aconteceu mesmo? Foi intencional? E se tivesse sido...


(ps. A realidade pode ser descrita de várias formas, a leitura deste texto não dispensa a consulta do prospecto ou do folheto informativo. Em caso de dúvida ou persistência dos sintomas consulte o seu médico ou farmacêutico.)