domingo, 26 de abril de 2009

"Sexual Healing

Repara: se eu pousar a língua no teu umbigo, os pêlos quase transparentes da tua barriga elevam-se; sentes os músculos do pescoço estenderem-se como se te espreguiçasses; tens mais saliva na boca; agora queres mais - sei isso porque me puxas os cabelos da nuca, um só movimento, como um castigo, depois largas-me. Uso os lábios (ao mesmo tempo que a língua) e o teu umbigo entra-me na boca. Sentes a pressão húmida e estável. Depois os dentes marcam-te a pele. Dói-te um pouco e então os músculos estendem-se mais, as pernas desabam para os lados, preparam-se.

"Tira tudo", dizes, mas páras a tarefa de desapertar-me os botões da camisa para me morderes o queixo.

"Vira-te", digo, e alongas o corpo na cama, a barriga cola-se no lençól, exibes - sabes que se trata de exibicionismo - a curva que transforma as costas em rabo. Dizes, enquanto passas aí os dedos: "Em inglês esta parte chama-se Small of a woman's back." Em seguida (como se em vez de perguntar, estivesses a pedir): "Vais-me comer?"

Basta que respire sobre essa curva no teu corpo e afastas-te do lençol, as ancas elevam-se, começas a ficar um bicho.

Falas: "Diz tudo o que quiseres, tudo o que te passar pela cabeça. Mesmo tudo."

Meto-te um polegar na boca, puxo-te para mim, sei que precisas de estar aqui com o corpo todo. Vai começar tudo outra vez e acabamos sempre num sítio diferente.

Nunca falámos de livros muito menos dos nossos pais.

Não existimos além deste quarto.

E, no entanto, precisamos de ser bichos aqui (tão bichos) para podermos continuar a ser pessoas lá fora. "

Escrito por Hugo Gonçalves, no blog Carrinho de Choque

Eu gosto de escrever, brincar com as palavras, dar-lhe voltas e com elas tentar descrever o que sinto, o que vejo, o que quero que aconteça, tento contar historias, libertar-me de pensamentos, de ilusões, tento falar de amores, de mim, de muitas pessoas. Mas há gente que com uma simplicidade aparente, consegue fazer tudo isso e de uma forma simplesmente fantástica, à qual ninguém pode ficar indiferente. Deparei-me estes dias com este texto, num blog, de quem não conheço o autor, mas fascinaram-me as suas palavras. Por isso o coloquei aqui.

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