terça-feira, 26 de outubro de 2010

Apreendemos desde sempre que em Química "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". É nos dito que tudo à nossa volta assim se comporta, assim acontece...
Olhando para nós, não é isso que vejo, criamos algo novo, uma ligação diferente, forte como as por pontes de hidrogénio e ao mesmo tempo com características de uma covalente, pois ambos partilhamos o mesmo objectivo : Fazer melhor desta vez...
De repente "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" e tudo muda e se transforma...
Chega agora a parte pior, o que se perde. Que teremos nós perdido com tudo isto? Será que ganhamos algo mais que breves momentos? Pequenas vitórias? o que iremos perder ou já perdemos?
Contrariando a famosa "lei de Lavoisier", conseguimos criar algo novo, verificamos a transformação e penso estarmos capazes de provar que tudo se pode perder...
É engraçado como sinto que tudo em mim se resume a pequenos ciclos, que se repetem, magoando e deixando marcas nas pessoas à medida que elas passam por mim e me deixam também as suas marcas.
Curioso a chuva ter voltado... logo hoje...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

(Bom Jesus - Braga - Outono 2006 - kodak 125px)


Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha

Que posso dizer-te que não te tenha dito já? Continuo às voltas com as palavras, sem encontrar as que pretendo, que descrevam o que sinto e que te gostaria de dizer.
Pensei que escrever fosse mais fácil e que ao sentir o toque familiar do teclado, as palavras fossem aparecendo, embaladas pela voz do Caetano Veloso, da musica que oiço, enquanto tento dizer-te o que quero.
Talvez eu seja como este banco, o oposto dos demais e por essa razão te olhe de um modo diferente, te escute de um modo especial e faça tudo para que te sintas única.
Ou talvez seja o contrario, talvez tu sejas como este banco, diferente de todas as outras e por isso te olho tão atentamente e procuro ouvir-te com atenção.
Não sei se algum de nós é assim tão diferente dos demais, só sei, que sempre que te vejo, fico com vontade de te voltar a ver, sempre que te encontro, no caminho de volta imagino novo encontro, sempre que falamos, fico à espera de nova conversa...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos



Perguntam-me como ando, como tenho passado, como me sinto ao acordar ou quando desligo as luzes para tentar dormir, perguntam-me coisas que não sei definir, não sei dizer, contar ou escrever....
Não sei como me sinto, como estou ou sequer quem eu sou...
Sou mais do que o que possam ver, mais do que imaginam que possa ser, mas sou também menos do que gostaria de ser.
São perguntas cuja resposta varia consoante o dia, o choro ou o riso com que acordo ou me deito.
Mas ando assim, sem vontade de nada, sem tempo para as coisas que me fazem ser "eu", faltam-me minutos e horas aos meus dias, faltam-me instantes de pausa.
Falta-me juízo, sim... isso é claro.
Sobra-me juízo, sim... embora não de uma forma tão clara.
Podia dizer que ando assim porque me faltas, mas nunca seria verdade. Não me faltas, não me sobras, estás como estás, na quantidade certa. Nos dias correctos em que combinamos. À hora certa por ti ou por mim marcada. Por isso, não me faltas, não é por ti.
Podia dizer tanta coisa, se tivesse tempo, vontade até... mas não me apetece. Anda farto de mim, cansado da imagem do espelho, do vulto da sombra em dias de sol, na imagem que fica nas fotografias que me tiram. Ando cansado... sim, acho que é isso! Cansado, cansado de tudo de todos, de nada e de ninguém. Ando cansado.

sábado, 9 de outubro de 2010

("Eu na linha" - 2008 -Carreço, by André)

Não sei se é possivel gostar de alguém por excesso ou por defeito. é estranho dizer e pior ainda ouvir, gosto pouco de ti... gosto muito de ti, soa melhor, mas quanto é que é esse muito?
Uma grande amiga minha, uma altura em conversa, dizia-me que gostava do namorado: "daqui até à lua" e mais ainda... e a verdade é que ambos sabiam disso e sentiam o mesmo, pois hoje são marido e mulher, mas é engraçado pensar nisso, será que é assim tanto? No caso deles sei que sim, mas pensando na frase, a distancia da Terra à lua, é "apenas" de 384.405 km , não sei converter isso em quantidades ou unidades de "gostar", mas é certamente muito e a analogia é das "mais bem" conseguídas que alguma vez ouvi.
É estranho pensar em limites, superiores e inferiores, ou pior, utilizar a matemática e definir integrais de área ou volume que consigam quantificar um sentimento ou pensar em simples expressões que relacionem a distancia com o tempo e convertam isso em unidades de gostar... acho que é impossível e até um absurdo!
Quem gosta... gosta e gosta muito! Mas, não sei, há paixões, há amores, como os de Verão ou os de Outono ou Inverno, que duram o que duram e depois terminam e passados meses ou anos, os nomes são esquecidos, os detalhes do rosto, os tiques do falar ou andar, apagados da memoria e as lembranças daqueles momentos, instantes a dois... desaparecem, mas houve uma altura em que as pessoas "se gostaram"...
Nas ciências, desde cedo, ensinam-nos que tudo tem unidades, menos algumas constantes, mas de resto, tudo tem unidades, tudo pode ser medido, quantificado em distancias, volumes, massas ou energias, mas o gostar de alguém... como é que se mede ou se indica?
É estranho "esta coisa" de gostar de alguém, não se percebe muito bem como começa ou o que leva a isso, não se consegue medir, nem sequer avaliar o quanto se dá ou se recebe, ou o efeito que essa troca/partilha exerce em nós ou conseguimos exercer em alguém.
É difícil falar do que não se vê, mas que se sente... é um pouco como a fé, é algo que sabemos existir, mas não a podemos medir, mas que sentimos e partilhamos.
Gostar de alguém é semelhante, não vemos, não sabemos dizer se é muito, se é pouco ou melhor, não há formas de o quantificar.

Eu gosto de ti, não consigo dizer quanto, mas sei que é muito. Pouco me importa não saber quantificar, a mim basta-me saber o que sinto, basta-me sentir que gosto e sentir que também gostas de mim... mesmo que seja ao teu jeito.
As linhas do comboio são uma bela analogia, começam separadas, independentes uma da outra, apenas partilham pequenas traves perpendiculares, mas em nada as aproxima ou afasta, mas se as continuarmos a olhar, com o aumento da distancia, aos nosso olhos, parece que as duas linhas se aproximam e aumentado mais ainda essa distancia, no infinito como lhe chamamos, quase que podemos dizer que se chegam a tocar e que as duas linhas que começaram separadas, seguem depois juntas.
Penso em nós dessa maneira, começamos separados, afastados e desconhecidos, independentes um do outro e à semelhança das traves perpendiculares das linhas do comboio, tivemos desde o inicio amigos comuns e vamos seguindo com vidas paralelas, que se aproximam e continuam em frente em direcção aquele ponto em que se encontrarão... eventualmente um dia.
Até lá, mesmo não sabendo quantificar ou dizer se é muito ou se é pouco, vou-te dizendo que gosto de ti: tanto como daqui até ao ponto onde as linhas do comboio se encontram e seguem juntas depois...
  (eu, na jante de um carocha - 2007?)

Mais uma noite em que o sono demora aparecer. Mais um dia penoso pela frente, quando daqui a um par de horas o despertador tocar e as obrigações me exigirem que saia de casa, de pasta na mão e sorriso colocado e que esqueça as horas não dormidas e que só pense nisso outra vez ao final do dia.
As palavras... mais uma vez as palavras.
Palavras! Alguém me disse uma vez, que eram elas a maior fonte de erros, de enganos... de ilusão e desgosto. Sim, são capazes de ser.
Criam mares de ilusões, aquelas palavras meigas, adoçadas a mel e perfumadas a Primavera, mas também abrem rios de duvidas, fendas de desilusão, sublinhadas por vozes e nomes, que não conheço.
Ao espelho, as imagens parecem correctas. A visão é clara, de um certo ângulo é perfeita, chamam-lhe reflexo do raio incidente, de outros pontos de vista chamam-lhe refracção e a imagem aparece distorcida... talvez mais próxima da realidade.
Realidade... mais um engano. Um erro logo ao início, procurar no espelho as respostas. Ele mentirá sempre, mesmo sem querer. É a sua forma de ser : inverte a esquerda e a direita das coisas, troca a realidade e os sentidos ás formas, aos corpos, a tudo...
Por isso procuro no espelho aquele que não sou, mas que talvez seja aquele que tu queres que eu seja, ou pelo menos aquele que conheces.
Fala comigo, pergunta-me que eu respondo, não tentes adivinhar pelo que vês. Os olhos mentem, sofrem enganos. O que consegues ver é pouco para aquilo que valho, é uma parte de um todo enorme que se esconde da vista, dos espelhos e se deixa iludir pelas palavras que vais dizendo, em forma de recado que julgo serem sinais... mas que afinal, são apenas palavras. Simples palavras que causam tantos enganos...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Coisas de que me lembro, numa madrugada sem sono...

 (Framboesa - 2005? Foto digitalizada)

A sensação que tenho, é que ainda não estavas madura. A cor vermelha viva e o sabor doce de um dos lados, fazia-te estar no ponto, mas o trago ácido que o outro lado me deixou, revelou que cheguei cedo demais. Não estavas ainda preparada para mim.
Guardo as duas sensações, o sabor doce e delicado e o sabor ácido e bruto.
Só agora te descobri.

(fim do dia - Esposende -2009?)
À distancia, vejo-te pálida, sem cor. Um pouco como a fotografia, consegui a luz que queria nas rochas, mas perdi os laranjas e os vermelhos que se fundiam no horizonte, com o azul do céu.
Estando perto, é mais fácil ver, mais fácil alterar e controlar os parâmetros, saber pelo menos o que se está a passar. Com a distancia, aumentam os problemas, as dificuldades e acaba-se por nunca se ter bem a noção do que se está a passar.
Vais-te afastando, como se fosses tinta a diluir-se, aos poucos vais ficando cada vez mais clara, perdes contraste e saturação. Perdes cor e com isso, perco pontos que eram só teus, perco referencias a pormenores, perco-te...
Está frio lá fora. A chuva que começou a cair ao inicio da tarde, antecipou a noite e trouxe as buzinadelas e a impaciência para quem passa de carro. A estrada está escorregadia e vi pelo menos 2 pequenos toques, entre carros. Nada de grave, mas da chatice já não se livram e até eu apanhei por tabela, pois foram vários minutos em fila, à espera de poder passar.
Arrumei os armários da roupa de Verão. É preciso começar a pensar nas camisolas de lã, nas camisas, nos casacos e te-los à mão, para os começar a vestir.
O dia foi igual a tantos outros, levantar cedo, estar ocupado a manha toda e grande parte da tarde, chegar a casa e arrumar alguma coisa, limpar a sala e arrumar o resto da loiça que ficou por arrumar ontem ao jantar.
Preparei o jantar, sem grande vontade ou apetite para comer, acabei por comer só a sopa e guardei os panados de frango com queijo e fiambre, talvez pró almoço de amanha...
Não lido muito bem com mudanças, sejam elas de que tipo forem, sejam mudanças de horários, mudanças de tempo, de humor ou de comportamento por parte de alguém. Estranho as mudanças e de certa forma, não reajo muito bem a tudo o que me altere as rotinas. Preciso dos hábitos e das rotinas e acima de tudo de saber com o que contar... para me sentir bem.
E talvez não estivesse ainda preparado para este final de Verão e chegada de Outono, com influencias de Inverno.
Mas bastou-me ver um sorriso conhecido, um sorriso enorme e que me deixa sempre bem disposto, para a minha disposição mudar. O dia, apesar da chuva miudinha que cai lá fora e do vento que oiço passear pelas plantas da varanda, terminou bem.
E tudo por causa de um sorriso...

 (Zona das lagoas - Ponte de Lima - 2007? )

Tenho uma certa dificuldade em admitir certas coisas, não me revelo nem me exponho facilmente e mesmo não parecendo, as palavras custam a sair e tornam-se soltas, vagas e fugidias. Descobri com o tempo, que cometo menos erros se esperar e pensar bem, antes de agir ou falar, o pior é quando me apercebo que cometo maior asneiras ou o erro é maior quando procedo dessa forma até porque a velha máxima nem sempre é valida e quem "espera, nem sempre alcança"...

" It takes no time to fall in love
But it takes you years to know what love is
It takes some tears to make you trust
It takes some years to make it rust
It takes some dust to make it polished


Life Is Beautiful
- Jason Mraz

Há marcas que não se esquecem, medos que não se ultrapassam e comportamentos que não se explicam, sinais que não se interpretam e erros que se cometem, apenas porque sim, ou apenas porque não gosto de desilusões.
E por ser assim, ás vezes digo que não gosto, quando sinto e sei perfeitamente que gosto, apenas porque preciso ter a certeza que a outra pessoa está preparada para me ouvir dizer que gosto... ou isto é desculpa e não digo que gosto porque o receio de ouvir um "mas não gosto eu" do outro lado é maior.
Acho que ganhei medo de dizer que gosto, dizer o que sinto sem receios, confio que as pessoas o entendam, ou saibam disso à partida, mas nem sempre os meus gestos são claros e há pessoas que precisam de ouvir, para acreditarem... ate porque eu também sou assim...
Por vezes é difícil confiar, o passado ensinou-me que as pessoas são muitas vezes egoístas e então é difícil acreditar que há pessoas diferentes e ainda mais quando elas até são parecidas comigo nos modos de ser e no modo de acreditar em certos valores.
Mas as pessoas não são comboios que se perdem, autocarros que chegam depois da hora ou táxis que não esperam. Há muito mais do que o simples querer, numa relação e há situações que não se conseguem evitar... acontecem!
E se há dias que terminam cinzentos, has outros que terminam em cores fortes e quentes. E por muito negra que seja uma noite, o dia seguinte nasce com luz...
Quando optámos por um caminho, podemos ver e saber como é o seu inicio, mas nunca sabemos como é o seu fim...
Mesmo sem quereres deixaste a tua marca. Apareceste ao de leve, como quem não conhece e se aventura na descoberta, foste avançando, passo a passo devagar, fazendo o possivel para não seres notada. Mas eu vi-te, senti-te por perto e procurei-te em redor. Encontrei os teus olhos, fixos nos meus e percebi quando fugias de volta ao nada, de onde vieste...
Sem quereres ao avançar mesmo devagarinho, foste deixando a tua marca, suave como perfume de Verão, mas suficientemente forte para eu notar, sentir e me encantar.
Há muito que te foste, que fechaste a porta e disseste adeus. E há muito que continuo a sentir-te cá, por perto, próxima.
Os dias passam, viram noites, o sol dá lugar à chuva e as folhas que sobrevivem nas árvores e que eram verdes, são agora castanhas, amarelo pálido, sem vida. Mas as tuas marcas continuam por cá, deixadas ao acaso, sem ninguém que as transforme em memórias, momentos passados, continuam vivas, presentes, bem presentes...
Procurei-te na altura e continuo a fazê-lo, não esqueci o silencio dos sorrisos ou o som das palavras trocadas com olhares.
Não tenho muito, deixaste-me pouco mais que lembranças... Mas são as marcas, que foste deixando sem queres e sem saber que o fazias, que mais me fazem lembrar de ti...

domingo, 3 de outubro de 2010

Basta-me esse teu olhar, esse teu sorriso e tanta coisa fica diferente. Só tenho pena não os ver mais vezes... tenho saudades.