quinta-feira, 30 de setembro de 2010



(Por do sol - Carreço, Verão 2008?)


" There's always a chance
A tiny spark remains... "


I'll be around - Spinners



Mesmo antes que o dia termine e noite chegue, há um instante, um breve instante em que o dia e a noite se tocam, divididos apenas por uma pequena réstia de luz...
Momento breve, mas intenso em cor e significado. è o Final, mas também é um inicio, já não é, mas ao mesmo tempo não deixa de ser...
É uma espécie de ponta solta que fica, algo que se arrasta, que se deixa ficar, teimando em não querer ir...
"Impenetrabilidade : propriedade que possuem os corpos de não poderem, simultaneamente, ocupar o mesmo lugar no espaço.

Enquanto te descobrir nas pessoas com quem me cruzo, nos perfumes que noto, nas vozes que oiço, nas imagens que vejo, nos sorrisos que me retribuem, nos arranques dos carros, na simplicidade de uma receita ou na complexidade de um desenho, não haverá espaço para outra pessoa.
Enquanto continuares a ser o primeiro pensamento do dia e o ultimo antes de dormir e continuares a fazer parte nos sonhos e textos que vou escrevendo, dificilmente outra pessoa entrará nas minhas histórias.
Mas peça a peça, pedacinho a pedacinho, cada dia um pouco mais, vou conseguindo distanciar-me e vou-te esquecendo, quase sem dar conta. Um pouco como tu querias... imagino eu!
Sou contra qualquer tipo de "metadona" ou qualquer outro elemento de substituição, preciso sentir e viver a ressaca, fechar-me nos meus rascunhos e rabiscos, isolar-me das pessoas, trocar rotinas e afastar-me de pontos conhecidos, preciso criar novas referencias, novos pontos guias, novos desafios.
E no papel, qualquer plano soa sempre bem, é sucesso garantido, fazendo lembrar a velha táctica do Benfica :Preud'Homme à baliza e João Pinto lá na frente e tá tudo resolvido, o resto... pequenos detalhes, pequenos nadas e os grandes sonhadores, não se prendem por pequenos nadas... mas os grandes sonhadores, à semelhança do Benfica, não se conseguem valer, apenas de grandes planos, quando tudo o resto falha.
Comigo passa-se o mesmo, no papel é fácil escrever, é fácil dizer o que quero o que vou conseguir fazer... na realidade... Preud'Homme e João Pinto, nunca conseguíram ganhar nada só os dois...
As leis da Física, por muito estranhas que pareçam é que estão certas, afinal são as que são as melhor descrevem o mundo.
E o meu coração, mesmo sendo grande, só tem espaço para ti..."

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Nos últimos tempos tenho colocado textos antigos, que cheguei a ter o antigo blog e acima de tudo textos que me fazem lembrar alguém, uma época e em especial, que me fazem lembrar e pensar na pessoa que era, que sou e no que mudei. Este é apenas mais um desses textos...

"Hoje...

Hoje queria um abraço. Um dos grandes, daqueles em que tudo à volta pode cair, sem sequer notarmos.
Hoje queria um sorriso. Um grande, daqueles teus, capaz de iluminar a sala e fazer desaparecer a chuva.
Hoje queria uma conversa. Uma das nossas, longas e sobre tudo, das que fazemos esgotar o cha do bule uma e outra e outra vez.
Hoje queria ouvir-te dizer sim. Um sim, diferente dos teus "talvez", dos teus "vamos ver e diverte-te entretanto".
Hoje queria-te aqui, perto, não necessariamente ao meu lado, mas à distancia de um olhar ou a uma suficientemente curta que pudesse sentir-te o perfume.
Hoje, hoje queria abraçar o mundo, num abraço profundo onde pudesse ter tudo e para isso bastava que estivesse aqui, à distancia de um abraço, à distancia de um sorriso, à distancia de uma conversa...
Hoje, bastava-me ouvir-te dizer : Também gosto de ti...


Há um ano, falava de alguém desta forma, queria alguém desta forma, próxima, presente, à distancia de uma abraço, de um beijo mais demorado ou apenas na proximidade de uma longa conversa.
O sim que tanto pedia na altura, chegou tarde, desfasado no tempo e quase em forma de alternativa, uma segunda escolha. Entre encontros e desencontros, o tempo passou e o encanto quebrou-se, deu lugar a saudade e a uma eterna incerteza sobre o que poderia ter acontecido.
Chegou alguém entretanto. Cheia de novidades e coisas novas, diferente, mais ousada, mais directa, bem menos tímida e igualmente grande em mistério. O tempo voou e o encanto transformou-se em cumplicidade, os afectos deram lugar a amizade a carinho e preocupação e o desejo, transformou-se em companhia, em ritual, em coisa nenhuma...
Os assuntos e interesses em comum, que alimentavam conversas longas, debates e troca de opiniões, esgotaram-se. O silencio em certas alturas, tornou-se sufocante e a necessidade de ar foi-se revelando cada vez mais clara, dando lugar a encontros isolados, cada mais afastados, mais distantes no tempo e na relação... mas é alguém que merece o melhor e onde o carinho continua presente, apesar da distancia.
E de repente, há alguém que aparece. Mais uma vez, e como quase sempre, sem saber como se acedeu o rastilho... apenas dei conta que já ardia.
O riso era conhecido, o sorriso enorme, as conversas fáceis, longas, cheias de pontos em comum, a cumplicidade quase familiar, as distancias foram encurtado e as barreiras derrubadas. A ilusão, feita balão com hélio, subiu, deixou a segurança dos pés assentes na terra e fez-se aos céus, elevou-se sem apoios... foi grande e esteve a centímetros de ser enorme. Tudo parecia fácil, natural, tendia para um equilíbrio de forças, princípios mínimos de energia onde a estabilidade é máxima e onde a repulsão e atracção se equilibravam... estavam (parecia-me a mim) a ser conseguídas, atingidas sem "gasto de energia", de uma forma natural... tudo me parecia natural...
Mas... tal como apareceu, fez questão de desaparecer. Mostrou-se, deu-se um pouco a conhecer e retirou-se, fechou janelas, portas, cortou com visitas, diminui conversas, espaçou os encontros, aumentou os silêncios e por fim afastou-me...
E num emaranhado de coisas, pessoas, ideias, projectos, vontades, trabalhos, empregos, sonhos, necessidades, memorias , contas, planos, desejos, ausências, silêncios, conversas, sorrisos, abraços, beijos, segredos trocados, segredos pedidos e outros perdidos, conquistas e derrotas... os dias continuam a chegar ao fim, as noites terminam com o nascer do sol.
Hoje em dia, as caminhadas são feitas de cabeça baixa, de olhos no chão, é-me mais fácil aceitar e dizer que não vi, que não percebi ou que não consegui ver, do que dizer que conheci e deixei escapar, dizer que vi e não soube reconhecer, ou pior dizer que vi, conheci, mas não consegui ser interessante ao ponto de cativar...
Ás voltas com os dias, feito tambor de máquina de lavar, vou filtrando e sendo filtrado, deixo partes de mim nas pessoa que se afastam, trago partes de alguém, sempre que conheço, vou-me construindo e continuo à espera que alguém me diga : Também gosto de ti..."

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em certos dias ainda me perco nas tuas voltas, confundo-me no que me dizes e no que me mostras. As palavras não dizem o mesmo, que os teus olhos e corpo me diz e mesmo sem procurar, encontro-te no meu caminho, na direcção do meu olhar.
Descubro-te pelo riso, pela voz e conversa, pelo perfume - que reconheceria em qualquer lugar. 
"Não há passos divergentes para quem se quer encontrar", como diz o Jorge Palma, mas nem sei se é isso que queremos...
Afasto-me, afasto-te, faço birra e procuro encontrar razões que me convençam de que tenho razão para agir assim, mas perco-me em tantos planos e volto ao mesmo... ao de sempre! Ao que sou... contigo e com o mundo!
Hás dias confusos, típicos de Outono, onde o sol e o seu calor disputam com a sombra e o frio, o escorrer das horas, dias em que me perco e te arrasto nos meus sonhos e onde me encontro e com rasgos de lucidez te coloco com quem tens de estar...
Dias em que quero que o tempo passe, que chegue mais rápido o Inverno, com os seus finais de dia antecipados, para me esconder em casa e me deitar cedo. Mais uma vez e até em desejos e pensamentos a dualidade está presente: procuro fechar-me e isolar-me do mundo e de ti e ao mesmo tempo, quero deitar-me, recolher-me cedo... para que o sono chegue e com ele os sonhos que me fazes ter...
Acontece muitas vezes, lembrar-me de pessoas que foram importantes, fizeram parte dos meus dias e que de alguma forma por diferentes razões e motivos acabaram por se afastar e que neste momento são mais lembranças e ausências. Mas continuam a fazer parte de mim, pelo que fomos, pelo que tivemos... pelo que sou! 

Em tempos fui assim :

Não sei se gosto de ti...
Não sei se gosto de ti ou se gosto da forma como gostas de mim...
Gosto da forma como me olhas, como me piscas o olho enquanto conversas com as pessoas, adoro a forma como me sorris, quando me descobres no meio da praça ou em plena avenida e me fazes sinais com os braços, adoro a forma como te insinuas e como me convences a sair quando não me apetece. Adoro ver o esforço que fazes para receber bem os meus amigos e a forma natural com que os tratas. Gosto da maneira simpática que as tuas amigas me recebem também e dos sorrisos cumplices que partilham contigo a cada nosso encontro. Adoro ver-te ca por casa e a forma como respeitas o meu "caos" organizado.
Gosto, do modo como partilhas as coisas do dia à dia, da tua forma sincera de me contares as coisas, gosto da tua maneira simples de resolver tudo e de tomar decisões.
Gosto da forma como me tratas. Gosto de te ouvir cantar, dos teus textos e até da forma "descuidada" com que seguras a minha máquina fotográfica...
Gosto do teu perfume, das tuas camisolas de alças e das tuas tatuagens, do tom moreno que tens agora e do tom meigo com que me falas de manha...
Sinto que gostas de mim, vê-se em cada gesto teu, em cada olhar, na forma como me procuras, na cumplicidade que temos... na simplicidade das coisas e na nossa naturalidade.
Mas não sei se gosto de ti...
Quer dizer, sabes que sim, que gosto de ti, muito. Sabes porque te digo, porque também sentes, pois procuro mostrar-te todos os dias a importancia que tens tido...
Mas, não sei se gosto de ti ou se gosto da forma como gostas de mim...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010





"Aprendí a leer tus páginas en blanco
y aprendí a entenderte sin hablar
pero los espejismos se desvanecen
si sólo se tocan por curiosidad.

Deja que te quiera sin reservas
deja que te quiera otra vez
a pleno sol
sin nada que temer."

A pleno sol - Mikel Erentxun


Pudesse eu parar os movimentos da terra, translação, rotação, o de processão e o de revolução. Tivesse eu capacidade para inverter a ordem natural das coisas e conseguísse eu anular tudo o que temos hoje e conseguisse voltar atrás no tempo, apenas uns uns meses e teria hoje outro sorriso.
Queria voltar ao inicio do Verão, ás idas à praia, aos passeios pelo corredores de madeira que atravessam as dunas. às conversas inocentes e aos segredos descobertos.
Queria voltar a ti.
Queria... queria... Queria tanta coisa, que não cabe num só texto, na descrição de um dia ou na memoria de um encontro. Queria voltar a olhar-te pela 1ª vez, a ler-te nos primeiros sinais e a encantar-me com a tua simplicidade de gestos e formas, de estar e de ser.
Pudesse eu voltar no tempo e prolongaria cada momento, cada conversa, cada olhar.
Pudesse eu voltar atrás no tempo e saberias mais sobre mim, terias mais dados, mais tempo a dois, menos distancias e ausências, terias-me agora mais perto.
Queria voltar atrás no tempo, para sentir o sol em pleno e fugir desta época de ventos e folhas soltas, esquecidas em caminhos e viagens para lados opostos.
Pudesse eu parar tudo o que temos e talvez até tivéssemos agora um ponto de equilíbrio, um principio de estabilidade onde a repulsão e atracção das nossas cargas estivesse em repouso...
Mas este meu vicio de mastigar as palavras, de me demorar com as frases e me arrastar nos pensamentos, fez-me perder a noção do tempo e do espaço e perdi-me de ti, da evolução natural das coisas e da ordem natural dos acontecimentos que quando Deus Quer, o Homem Sonha... a Obra nasce.
Sonhei demais, por demasiado tempo...
Ah, pudesse eu parar tudo o que existe e voltar atrás no tempo, aos passeios simples, ás conversas despreocupadas e aos encontros naturais e talvez a historia fosse escrita com outro tipo de letra, sobre uma folha diferente e com um final alternativo ao que temos...
Tenho pena...
Ainda de volta das coisas com algum tempo...

(Janela em casa da minha avó - não me lembro da data)

Sei que me procuras, quase sempre de fugida. Mas sei que te interessas, que te importas, mesmo que faças silencio e não me fales.
Eu, procuro-te à distancia, imagino percursos, caminhadas e rotinas que vais fazendo de manhã à noite. Olho os vestidos nas montras e sei dizer se te ficavam bem ou não, se ias gostar de provar ou não, consigo imaginar até, a tua expressão de agrado ou nem por isso...
Ao mesmo tempo esqueço-te nos livros que leio, nas coisas que faço e nas tarefas que procuro arranjar. Esqueço-te, tentando não pensar...
Sinto-te na distancia das memorias, na saudade dos meses mais quentes... mas encontro-te no calor das camisolas de lã, no aconchego das pantufas e acredita até no fumegar do chã quente, bebido aos golinhos entre trincas nos biscoitos limão ou nos bolos de feijão...
Trago-te nos desenhos da caneta azul, na cor da camisola ou na descontracção dos chinelos.
Tracei ponto a ponto um esboço do teu rosto, do teu corpo, apenas de memoria e posso dizer que sei bastante sobre ti, conheço-te em detalhes mas confundo-te em pormenores que podem ou não ser teus... já não sei, a lembrança atraiçoa-me em certos momentos, não garanto que sejam todos teus estes sinais que guardo na memoria e teimo em associar...
Vejo-te na luz do flash da máquina, no som metálico que se solta ao carregar o rolo, ao soltar os botões e ao rodar os cilindro que seguram o filme. Coloco-te em fotografias, tiradas de memoria, sem tripé ou focagem segura, tiradas com o instinto de quem fecha os olhos, na certeza de que por muito boa que que seja a fotografia, a memoria da visão das coisas ultrapassa em larga escala o registo em película.
Invento-te um cheiro, um perfume, pois não consigo associar-te nenhum. Imagino que tenhas um perfume, uma fragancia só tua, com um nome estranho e de difícil pronuncia, mas não me lembro ou então... esqueci-me.
Vou-te esquecendo aos poucos...

E tal como a luz, que entra na janela do terraço da minha avó, que só por breves instantes se consegue captar segundo um feixe definido e dirigido... também as minhas palavras, tem uma curta duração, valem o que valem, significam o que quiseres. Hoje são certamente diferentes das de amanha, na forma e no sentido, no que poderão querer dizer.
Mas são as palavras que utilizo nos meus textos, que me fazem sentir-te perto, ainda próxima... ainda acessível e quando deixar de conseguir encontrar-te nessas mesmas palavras com que brinco, nos textos e bilhetes que vou deixando, será sinal que te esqueci...
Continuam as recordações, as noites em que o sono chega já de madrugada e os pensamentos gravitam em torno de relações, pessoas de momentos que passaram.
Este texto, descobri estes dias num rascunho em papel, mas também não sei, se é novo aqui...

Desde que não estejas comigo estarás sempre longe...

O mais é engraçado da vida, são os encontros e desencontros entre pessoas que conheço e que vou conhecendo. Aliás os meus dias são assim, cheios de encontros e desencontros, repletos de sonhos e ilusões, como os de toda a gente, penso eu.
Há porém alturas, em que os dias são diferentes, a luz é diferente, o cheiro das coisas toma outra intensidade, o sabor de tudo é mais forte, as noites tornam-se dias a uma velocidade tal que mal dou pela passagem da madrugada...
O sentido das coisas muda, de dia para dia ou ao sabor das companhias, o que foi importante é agora mero episodio do passado e o contrario também é verdade, o que hoje importa foi anteriormente esquecido.
A confusão por vezes é tal, que o longe, fica perto e o perto é demasiado distante que se torna impossível de alcançar. Com tudo isto a confusão sobre a relatividade das coisas impera e analisando aos olhos da física, mas principalmente aos olhos do senso comum, de facto tudo é relativo.
No meio de tudo isto, cruzo-me com pessoas, como tu, que me enriquecem os dias de uma forma tão simples e ao mesmo tempo tão intensa, que transformam encontros normais, na melhor das recordações.
De longe, quem nos vê, imagina-nos um casal de namorados, tamanha é a cumplicidade que partilhamos.
No fundo, entre conversas e carinhos, mesmo sem o sermos, é isso que somos...
Só assim se justifica a necessidade de estar junto, a partilha, a cumplicidade, o riso...o choro. Ao longe, quem nos vê, não imagina que o que nos une é também o que nos afasta, que apesar de juntos, estamos sempre tão longe de ficarmos perto e sempre perto de estarmos longe.
Mas para mim, desde que não estejas comigo, estarás sempre longe...



"Não é fácil, não pensar em você
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos, não te encontrar

Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil

(...)
Marisa Monte - Não é Fácil - Memórias, Crônicas e Declarações de Amor

Do nada surgem vozes, imagens, lembranças de pessoas que passaram e levaram alguma coisa com elas... pedaços meus, momentos partilhados e historias vividas. Tudo aconteceu, tenho a certeza, há fotografias que o provam, não são apenas memorias e recordações minhas ou historias e pessoas inventadas e "desinventadas" por mim.
Musicas que tocam, livros de que alguém fala, filmes que passam repetidos na televisão, camisolas que pego sem pensar no armário, escovas de dentes que encontro perdidas na gaveta e que me demoro deitar fora, cadernos antigos com folhas riscadas, receitas apontadas ou telefones de contactos esquecidos, tudo serve para fazer lembrar de alguém...
Quase como na feira : mais uma moeda, mais uma volta... as minhas historias repetem-se da mesma forma, repetições e mais repetições. Mais parecendo um exercício de laboratório, com centenas ensaios, para o tratamento estatístico ser mais exacto... ou preciso, não me lembro agora...
Começo a sentir que conheço o final, a cada novo começo ha uma nova queda, uma marca que fica, algo meu que se vai. Perco-me, desgasto-me, reduzo-me e re-invento-me com a paciência de quem já conhece as peças e sabe onde cada uma encaixa...
Demoro o meu tempo, escrevo-me e descrevo-me em papeis que perco pela casa, por cadernos que perco pelas estantes, rascunhos que ficam guardados, escondo-me e afasto-me, revelo o pior de mim : o querer estar só.
Mas encontro-me. Travo nas rectas e acelero nas curvas, ando pela esquerda e dou pisca nas curvas, paro no verde e arranco no vermelho, grito golo quando a bola passa ao lado e peço bola ao ar quando a metem dentro da baliza... ando ao contrario de todos, sou o contrario de todos.
E no entanto o que escrevo, o que oiço e o que leio, são apenas palavras e palavras, são fontes de enganos...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Palavras que nos beijam - Alexandre O’Neill
Mas há também palavras que nos magoam, por vezes quando são ditas e outras mais ainda quando ficam por dizer. As que se dizem, fruto do momento, são esquecidas com facilidade. As que se esperam ouvir e que ficam para sempre em silêncio, esquecidas... essas magoam e deixam marcas.

Os teus silêncios magoam-me mais do que qualquer palavra ou acção que possas ter... e tu sabes disso! Conheces-me!
(2008)

 
(2009)


(2010)

O mesmo local, a mesma altura do ano - final de Verão: Inicio de Setembro, o mesmo banco,  a mesma máquina fotográfica, a mesma distancia focal, o mesmo ambiente: praia/mar, a mesma pessoa...
Não, não sou a mesma pessoa! Tenho o mesmo nome, as mesmas feições, mais ou menos o mesmo corpo, a mesma cor morena de fim de estação, mas sou diferente, estou diferente.
Em três anos muita coisa mudou, muita coisa me transformou, muitas pessoas me fizeram ser alguém melhor, mas também alguém pior... a vida é mesmo assim, uma constante transformação.
Na metamorfose esperada, as mudanças maiores são internas, as externas apenas as normais que o tempo provoca. De um ano para o outro são visíveis e sentidas as diferenças, mas em dois anos... as diferenças são ainda maiores.
Não sei se sou melhor pessoa agora ou há 3 anos atrás, era diferente, sou diferente em muitas coisas e permaneço o mesmo em muitas mais!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sempre o último pensamento do dia...


Mesmo que não te veja, mesmo que não esteja contigo, mesmo que não te diga...
Textos de um tempo que não volta :

(Da minha Varanda : Maio 2007)

A noite chega e com ela o sossego à rua, os cafés fecham, as pessoas voltam a casa e os carros deixam de se ouvir. O silêncio das luzes e da Lua acompanha-me num cigarro, estupidamente acesso, apenas para ver o fumo bailar entre os dedos da mão e o maço que faz agora de cinzeiro...
Os contactos do messenger há muito que desligaram e as conversas interrompidas por hoje.
O chá de menta já está frio, mas sabe bem mesmo assim, foi a companhia escolhida.
Penso em ti, penso em mim, no que te quero dizer e no que te espero ouvir. Penso em escrever-te, talvez seja mais fácil se me responderes dessa forma...
Entre silêncios e duvidas o cigarro apaga-se e o fumo termina, ainda penso em acender outro apenas para ver o fumo bailar, mas foi o ultimo.
Continuo à varanda, apesar de um certo vento, sinto-me bem cá fora. A lua entretanto já rodou mais um pouco, mas continua como companhia, ao longe e em silencio, parece que me vigia.
Lembro-me de uma frase, comentada durante a tarde : Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura e neste momento sou enorme, vejo tanto... sonho mais ainda.
Estive a ler-te, no que me lembro das conversas, a ver-te no que me lembro dos encontros... e olho-te sobe a forma de enigma, um puzzle cheio de peças, complexo, dos que demoram tempo a descobrir e dos que valem o tempo que se demora a descobrir a solução.
Regresso ao quarto, desligo a musica mas ainda vou a tempo de ouvir :Because maybe You're gonna be the one...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"És como és e eu sou como sou. Eu vivo num mundo da lua, mundo ideal, cheio de sonhos e de mil projectos, contento-me com pouca atenção e levo tudo muito pouco a sério, na maioria das vezes e das vezes que levo demasiado a sério, não sou percebido.
Tu, és diferente. És mais realista, tens os dois pés e ás vezes pergunto-me se não colocas também as duas ou pelo menos uma das mãos no chão, és firme nas ideias, realista nos sonhos.
Tens um sorriso, ou melhor tens vários. Tens um que mostras a toda a gente e depois tens um, especial que me mostras de vez em quando ou então sou eu que só consigo ver de vez em quando.
Ás vezes és mais fria e mais distante... noto mais quando me sinto mais próximo e com mais vontade de aconchego. Outras vezes és quente, calorosa, mais meiga...
Num mundo perfeito, poderíamos ser talvez o par ideal. O peso certo de cada um, na balança dos dias. Num mundo ideal, como o que procuro nos textos, nos livros, nas musicas, nos sonhos, serias minha tanto quanto eu sou teu.
No teu mundo, real, verdadeiro, somos apenas esboços de algo. Projectos de qualquer coisa. Um par mal formado, tanto afastado quanto próximo, sem forma definida, sem posição garantida, sem nada. Um par, de duas pessoas...
És como és e eu sou como sou.
Mas ás vezes sonho demasiado e esqueço-me disso mesmo..."
Em tempos criei vários personagens, seria sobre eles que escreveria, numa altura que quis escrever um livro... ficou por acontecer!  Sobram poucos textos dessa altura, este é um dos poucos...


"Um dia acordou e de manha enquanto passava água pelos olhos, pensou na vida, olhou-se ao espelho e antes ainda de desfazer a barba, reviu várias situações por ele vividas. Sentiu-se velho. Pensou no que tinha : uma conta no banco, poucos euros guardados e alguns deles herdados, uma casa modesta e a precisar de obras e de atenção em vários cantos, um carro, já com idade de clássico, parado sem inspecção há pelo menos 3 anos e que apodrecia na garagem em frente à casa.
Já com metade do pequeno almoço tomado, enquanto as segundas torradas aqueciam no aparelho, passeou-se pela sala, olhou em volta e demorou-se pelas fotografias, dezenas delas, pequenas, grande, a cores e não só, de gente, de amigos, de família, de locais e cidades. Sentiu-se velho.
Voltou as torradas e ao copo de leite, pegou nas caixas de remédios e aviou a meia dúzia habitual e deu baixa no calendário, para não se esquecer. Sentiu-se velho, como o ritual.
Desceu à rua, directo ao café. Entrou, sentou-se e pediu um cheio com adoçante e perguntou pelos jornais. Viu um a um, demorando eternidades na necrologia, tentando lembrar-se se conhecia alguém verdadeiramente ou se era apenas caras conhecidas, iguais a tantas pelas quais passa diariamente na rua. Sentiu-se velho, ao ver a idade das pessoas que constavam naquela página.
O resto da manha, foi passada na rua, na praça de volta dos pombos e sentado no jardim a contar primeiro carros vermelhos, depois pessoas de chapéu ou boné, há muito que escolhia "alvos" difíceis, carros vermelhos, numa zona de pouco movimento e pessoas de chapéu ou boné nos dias de hoje, são exemplos raros, claro que os miúdos, que passam por ele, não contam, esses não são gente, são apenas projectos de ... e muitos deles, maus projectos... não possuem uma boa estrutura base, não sabem respeitar os mais velhos, não sabem falar baixo, dizem as asneiras e limpam-se ás mangas das camisolas e cospem-se ao falar.
O almoço foi na Rua, na pensão das 3ªs feiras. Pensou nisso, enquanto acabava a sopa e esperava pelo arroz de tomate com pataniscas. Era um "animal" de hábitos, almoçava cada dia num sitio diferente, num circulo vicioso, em que conhecia de há muito as ementas da zona.
A tarde foi passada, como muitas outras, contou carros pretos e pessoas com bicicleta, alimentou os pombos mais um pouco e passou ainda pelo mini-mercado, precisava de leite e manteiga para o pequeno almoço do dia seguinte.
Passou por casa onde deixou o saco das compras e antes de voltar a sair para jantar, viu o preço certo, saiu depois em seguida, directo à mesma pensão onde almoçou, sentou-se e pediu a sopa, prato habitual de todos os dias à noite. Sopa e mais meia dúzia de comprimidos, pacientemente contados e controlados no calendário antes de sair de casa. Viu o telejornal e esteve especialmente atento à previsão do estado do tempo, para os próximos dias. Não que a chuva o incomode ou atrapalhe os planos e altere as rotinas, afinal os dias são sempre iguais, faz sempre as mesmas coisas. No fim de jantar, seguiu directo para casa, um velho precisa de descansar, atira enquanto paga e se despede com um ate depois.
Chega a casa, passa os pés por água quente, calça umas meias de lã e as pantufas, veste o pijama enquanto coloca água p/ chã a aquecer. Toma o chá, enquanto pensa no que vai fazer amanha e prepara a roupa para vestir logo que acorde e se arranje, todas as noites a preocupação é a mesma, prepara com cuidado a roupa que veste no dia seguinte e coloca de lado a roupa para lavar, que a vizinha do 1º frentes, vem buscar aos sábados ou as vezes aos domingos.
Sentiu-se velho, quando se sentou no sofá, para ver um pouco de televisão, sentiu-se pior quando se lembrou e contou o número de pessoas com quem falou durante o dia, contas fáceis, uma mão chega : o homem do café de manha, a senhora da pensão, foi a mesma a servi-lo almoço e ao jantar, a menina do mini-mercado e não se lembra de mais ninguém. Sentiu-se um velho e chorou, ao lembrar-se que não tem sequer 50 anos e vive assim, alheado do mundo, infeliz e solitário há quase 15, desde que a mulher o deixou e pediu o divorcio. Desde então, tem envelhecido, feito vinho do porto em cascos de carvalho, ele tem-no feito ali em casa, isolado do mundo e em rotinas viciadas e repetidas vezes sem conta, faça chuva ou faça sol, as poucas coisas que muda é o local onde almoça e janta, consoante o dia da semana e se vai ao café de manha ou durante a tarde, de resto os dias são iguais, são sempre iguais.
Adormeceu a chorar."
"Se há dias que acordo com a certeza que te aproximas, outros há em que adormeço com a certeza do contrário, de que te estás afastar...
Deixei de te tentar perceber e tento agora perceber-me. E no meio de tanta dúvida a certeza que tenho, é que com a troca, não simplifiquei nada. Acho-me confuso, de difícil compreensão. Sinto-me incompleto, com partes por descobrir, sem esquema de montagem ou dicas para o fazer. Sei-me complexo e de difícil acesso. O orgulho e a desconfiança, fecham-me em copas, até para mim mesmo e adio as respostas, com outras perguntas e falsos interesses.
Há dias em que acho que seria mais fácil, voltar a tentar entender-te, talvez assim me descobrisse... mas logo percebo que alguém perdido, não pode guiar ninguém correctamente...
E no meio destes dilemas, acordo e deito-me, com as respostas adiadas, com as perguntas no ar...
"

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

I love the way we communicate... my eyes focus on your funny lip shape...

"Toda a gente me diz o mesmo, que falo tanto com palavras como com gestos. Ou são as mãos e dedos que não param, ou os olhos que percorrem os rostos, as pessoas e tudo o que rodeia, sempre em busca de reacções ou para me situar, ou então, as pernas que mexem ao ponto de irritar quem se senta ao meu lado. O que poderiam ser sinais de nervosismo são apenas movimentos meus, tão típicos e naturais que nem me apercebo e que facilmente os outros reparam. Principalmente quando falo e conto algo meu ou algo que naquela altura me fascina e entusiasma, deixo-me levar e expresso por gestos tudo aquilo que não consigo por palavras.
Mas contigo é diferente, sempre foi diferente. Sou o melhor dos ouvintes, não perturbo ou interrompo o que me dizes, fico quieto e observo cada palavra das tuas. Concentro o meu olhar em ti, nos teus olhos, nas maças do rosto, nos sinais, na forma redonda dos lábios, no baloiçar dos brincos, no modo como afastas o cabelo da cara e é nesse instante que me concentro nas tuas mãos, nos dedos e no anel, nos gestos que fazes com as mãos, tão iguais aos meus e tão expressivos que me revejo em ti.
Quando falas, algo muda, sinto-me e sou diferente, encanto-me com o brilho dos teus olhos, negros e grandes, com o teu cabelo liso e igualmente escuro. Percorro, com o olhar todo o teu rosto e já reconheço algumas das rugas e até as covinhas que fazes quando sorris.
Dizes que não te levo a sério e que não oiço o que dizes. Não é verdade. Oiço-te com uma atenção tal, que quase consigo dizer palavra por palavra, tudo o que oiço."

domingo, 12 de setembro de 2010




"Eu fui devagarinho
Com medo de falhar
Não fosse esse o caminho certo
Para te encontrar
Fui descobrindo devagar
Cada sorriso teu
Fui aprendendo a procurar
Por entre sonhos meus

Eu fui assim chegando
Sem entender porquê
Já foram tantas vezes tantas
Assim como esta vez
Mas é mais fundo o teu olhar
Mais do que eu sei dizer
É um abrigo pra voltar
Ou um mar pra me perder

(...) "

Gente Perdida - Mafalda Veiga




(Eu - Agosto 2010)

Estes dias tenho tentado editar e organizar algumas coisas que fui escrevendo e por isso tenho-me confrontado com alguns textos que escrevi e que me continuam a fazer pensar. 

Manta de Retalhos - Setembro 2006

"Sinto-me uma autentica manta de retalhos. Retalhos de várias vidas, várias pessoas, de sonhos e desilusões.
Eu sei que sou um pouco aquilo que as outras pessoas me fizeram ser, hoje sou uma pessoa que foi sendo transformada por outras. E sinto-me incompleto, um conjunto grande de pequenos momentos.
E nesta nostalgia toda, sinto que me falta tanta coisa...
Sinto a falta das conversas com "A", dos olhares trocados com "B", dos carinhos de "C", dos sermões de "D", das brincadeiras de "E", das idas ao cinema com "F", dos mimos de "G", dos jantares de "H", do que fazia com "I", das tardes com "J", dos cafés com "K", de faltar ás aulas com a "J"...
O mais estranho, não é sentir a falta de tantas pequenas coisas ou sentir a falta de tantas pessoas que ao longo dos anos tenho conhecido e me são proximas. O mais estranho é sentir que estou diferente, que sou diferente do que era com essa pessoas... e sei que em certas coisas, estou diferente para pior...
Uma pessoa, um dia disse-me que "era um bocadinho de muitos lugares", eu sinto-me assim, um bocadinho de varias pessoas e ao mesmo tempo não sou inteiro de ninguém...
"


Os dois pés nos chão - 2007



(Experiência caseira - Pinhole 2007)

"Descobri que gosto de ti! Descobri que gosto de pensar que gosto de ti e descobri que isso me faz sentir bem. Não sou outra pessoa, não me elevei a um estado superior, não cresci ou engordei, não tive nenhuma experiência extra-terrestre, ninguém me disse ou me fez acreditar nisso, apenas acordei assim um dia! Acordei com o pensamento em ti e desde logo soube que gostava de ti. E agora? E agora nada... não tem necessariamente que haver alguma coisa para além do nada que já tínhamos.
Tu, não sei se sabes, mas eu sei e isso para já basta-me!
Gosto de ti. Como? Como se gosta de alguém. Sinto-me bem contigo, gosto de te olhar, gosto de te ouvir, imaginar fotografias e filmes em cenários que sei que gostas e outros que sei que gostarias de conhecer.
Mas dois pólos, de igual carga, tendem a afastar-se, fazendo valer as mais básicas leis da física e da atracção entre dois corpos e isso é suficientemente forte para se sentir e se notar...
E tendo os dois pés bem assentes, sei que entre o "eu gostar" e o "gostarmos os dois", há diferenças... Diferenças enormes!
Mas eu gosto das reticencias no final das frases, evito os pontos finais e fujo dos parágrafos novos, com a mesma rapidez com que fujo ás perguntas mais insistentes e cujas respostas mais me custam dar...
As distancias aumentam com os silêncios e as ausências, mas diminuem com a mesma rapidez, havendo vontade.
Tirando máquinas digitais e outras máquinas mais ou menos automáticas como as famosas polaroides, onde tudo acontece tão automática quanto instantaneamente, desde o processo de captura de um momento/imagem até à sua obtenção, em filme ou papel, há todo um processo, etapas com tempos e procedimentos específicos e factores como tempo, observação e espera são fundamentais para um bom resultado final.
Gosto de ti, acordei um dia a pensar dessa forma e de certa maneira isso faz-me gostar de mim, faz-me pensar em ser diferente, estar diferente, crescer, ser maior, mais inteiro nos actos e nas promessas que faço e nas palavras que digo. Tudo o resto... já existia antes de eu acordar a pensar assim.
E porque só agora? Porque gosto de equilíbrios, de pausas e reflexões, de certezas e porque muitas vezes a primeira coisa em que pensamos quando acordamos, não passa da continuação de um sonho, que se esfuma ainda antes do banho de chuveiro nos minutos a seguir ao levantar. Precisei de acordar a pensar na mesma coisa e na mesma pessoa, algumas vezes, para ter a certeza que não era só sonho ou restos de sono a falarem e pensarem por mim..."


E assim vão seguindo os meus dias, entre recordações, de lugares, pessoas, sentimentos, cheiros, emoções e de muitas outras coisas e o presente e a forma como o vivo e penso no futuro. Tudo acontece por alguma razão ou então simplesmente acontece porque tem que acontecer e pela razão que quisermos atribuir...
Termino com as palavras de Caetano Veloso : 

"Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz"

(Sonhos - Caetano Veloso)


Sei que te importas e que por isso me procuras com frequência. Sei também, que ainda gostas de mim, mesmo que já não me digas, vejo isso em ti, na forma como me continuas a olhar ou pela forma como me ouves...
Os dias vão passando e as certezas aumentam, assim como as dúvidas se diluem. Ou então não... não sei! 

domingo, 5 de setembro de 2010

Há muito que sinto que me repito em ciclos e há instantes encontrei um texto meu, de 2008, que escrevi no outro blog e não consegui deixar de me rir... pouco mudou. Um outro rosto, um nome diferente, uma nova pessoa, mas as mesmas questões...


(eu - talvez em 2007, 2008, não sei...)

A vida segue ao seu ritmo, ao ritmo de cada um, da vida de cada um. É uma espécie de movimento dinâmico, um vai-e-vem sincronizado entre quem se afasta e quem se aproxima, uma coordenação quase planeada em rascunho e depois passada a limpo.
Nos últimos dias, optei por estar quase sempre só, numa casa vazia de pessoas, preenchida com moveis, roupas e coisas que só se usam no Verão, num prédio igualmente vazio, numa zona, onde nesta altura do ano, consigo com facilidade, à noite, contar toda a gente com quem me cruzei durante o dia, apesar disso tudo, nunca me senti sozinho.
Apesar dos silêncios, que arrasto comigo, para onde quer que vá, há sempre uma voz, uma imagem, um olhar e principalmente um sorriso enorme, que me acompanha... sempre!
Continuo a ver-te, a lembra-te, a sentir-te próxima mesmo que te saiba distante, a querer conhecer-te mais e mais e mais ainda, a querer estar contigo, a querer que me conheças e que me descubras. Sonho contigo, trago-te em pensamento durante o dia, vejo-te nas pequenas e grandes coisas que encontro, nas estrelas à noite, no calor e na luz do sol, na frescura da água que bebo, no frio do vento, na neblina que encontro de manha quando chego à areia, no som das ondas nas rochas, nas conchas que guardei...
Poderia quase dizer, que te trago na pele. Sinto-o... sinto-te.
Lembro-me de conversas disparatadas, pequenas guerras para ver quem vencia e quem se deixava perde, momentos cheios de coisa nenhuma, esvaziados pelo tempo que não perdoa e escorre a um ritmo que é só seu e que ninguém controla.
Gosto de ti, desde sempre. Desde que te vi, ainda antes de te conhecer, ainda antes de saber quem eras, já sabia o que me ia acontecer... é o meu destino, o meu fado: gostar, de quem de mim não gosta; querer, quem não me quer; sonhar, com quem nem de mim se lembra; esperar, por quem de mim se esquece...
O meu olhar no horizonte, não é vazio, esconde antes desejos, vontades, sonhos, que podias colorir e dar forma.
Se eu pudesse... ah seu eu pudesse... ensinava-te a gostares de mim!



"(...)
Eu estarei quieto e assim sozinho
Cheio das dúvidas do universo
À tua espera... "

Procura por mim - Mafalda Veiga


( Eu - Verão 08 )

 Acabei de chegar, de um café que me soube mal, nem tanto pelo sabor forte e amargo por estar demasiado queimado, mas mais pelo comportamento das pessoas em torno da mesa, pelas conversas paralelas, pelas mensagens escritas à pressa e escondidas de um modo mal disfarçado, como se fossem segredos e pela forma que arranjaram de me reter, quase mais uma hora, com conversas forçadas e assuntos sem sentido ou o modo pouco discreto com que abandonaram a mesa, assim que alguém chegou ao local, como se  tivesse sido a maior das coincidências entrar exactamente naquele espaço e encontrar-me, sentado a uma mesa vazia...
No regresso a casa, de carro e talvez pela minha má disposição, optei pelo silêncio do rádio. Vim o caminho todo a falar sozinho e acima de tudo a pensar em voz alta. Bem sei, que sair como sai do café, onde praticamente deixei meia dúzia de pessoas a falarem sozinhas, enquanto algumas ainda chamavam por mim e ainda mais, vir a falar sozinho no carro... não é de gente muito normal! Mas não quero saber, há já algum tempo que deixei de me preocupar tanto com o que possam pensar de mim em certas alturas.
O silêncio do rádio e o reduzido numero de carros com que me cruzei, no caminho de regresso, ajudou-me a pensar em ti.
Talvez porque "é no silêncio que nos ouvimos melhor e é, quase sempre, na solidão que conseguimos ver mais longe..."o meu pensamento voou ao teu encontro e ao que me apetece fazer...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010


(imagem Internet)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010


(Imagem da Internet)


Tentei dizer-te com gestos, tentei depois dizer-te com palavras, sussurrei e mais tarde gritei e tento agora com imagens... não te quero ver desaparecer, quero-te: 
  • por perto
  • comigo
  • aqui
  • presente
  • tocar...
Não te afastes, esquece o que te dizem, esquece o que te tentam contar e que te fazem dúvidar do que sentes... sei, que sabes que sentes o mesmo... continuas a sentir o mesmo... ainda!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010



Original de Leonard Cohen


"But I know from your eyes
and I know from your smile
that tonight will be fine...
"
 
Tonight Will Be Fine (Teddy Thompson)




(imagem da Internet)

Repito-me! Tenho essa constante sensação, que ate já é mais do que certeza, de que me repito... nas pessoas e nos erros. A ilusão acompanha-me e a cada sorriso maior, consigo atribuir mil intenções, mil verdades e acredito em todas elas. E com isso, repito as constantes desilusões, as verdades que teimam em magoar.
Como bicho ferido, procuro sempre a mesma cura, o silêncio e o sossego, acompanhados de um colo já conhecido, alguém que me receba e me mime, mesmo sabendo que volto a fugir, mal me sinta de novo com forças... sou egoísta! 
Sim, conheço-me e sei que sou egoísta! E não gosto de saber que sou, mas repito o erro uma e outra vez.
À semelhança da fábula do escorpião e do sapo, eu sei que sou assim!
Dou-me às pessoas na única medida que conheço: a maior e por inteiro, mas erro ao pedir o mesmo e na mesma proporção. Não se pede a ninguém que goste de nós, não funciona assim. Não se força ninguém a querer o mesmo que nós, por muito que se queira e se saiba que até daria certo, há laços que não se forçam, que se plantam e se fazem crescer, mas que nunca se podem forçar... ou partem de vez!
Os anos passam, as experiências repetem-se, as pessoas entram e saem das vidas uma das outras, vão deixando um pouco de si e muitas vezes é mesmo só isso que fica, recordação e lembrança de alguém que passou por nós...
Eu sinto que me repito, mesmo traçando rumos diferentes, experimentando rotas novas, medidas mais cautelosas, esbarro no mesmo final e termino embalado por um colo que me acolhe...
Ando cansado, sim, cansado...

(Fim do dia - 31.8.2010 - Antas - Esposende )
(carregar na foto, para ver melhor)


Há lugares especiais, onde nos sentimos bem, onde, mesmo que aparentemente sejam comuns e à vista da maioria das pessoas sejam simplesmente lugares, nos sentimos bem. Este é um desses lugares!
Parece apenas mais um dos muitos acessos a uma praia, praia essa cada vez menos merecedora desse título, pois possui cada menos areia e cada vez mais pedra. É um lugar, quase deserto, são raras as vezes que lá vou e que me cruzo com alguém nos seu acessos. Tem um passadiço em madeira, que nos leva pelas dunas, desde a zona do parque para carros, até à zona de acesso aos calhaus e dai ao mar. Um banco, de costas voltadas ao mar, com um caixote de lixo ao pé, são talvez os únicos sinais de conforto, que aquele lugar oferece à maioria das pessoas.
Eu gosto de lá ir! No Inverno, gosto do som das ondas a bater nos calhaus e também do som da água a fugir por entre as pedras, no seu regresso ao mar. Gosto do cheiro, aquele verdadeiro cheiro a mar, cheiro a praia do norte do país. No Verão, gosto do por do sol, das cores quentes que se esbatem entre a água e aquele restinho de areia, quando há maré baixa ou então sobre as rochas, quando a maré esta em cima, como estava hoje ao final do dia. Mesmo sem a fúria das ondas de Inverno ou a a tranquilidade das cores quentes no Verão, no resto do ano as idas até lá são igualmente frequentes.
Para mim, é um lugar de sossego, de reflexão, de procura de respostas, onde posso estar num ambiente de que gosto particularmente: praia/mar e onde normalmente me renovo e me organizo.
É engraçado lembrar que o barulho da água nas pedras já abafou diversos desabafos, confidências e que sentado ali nos degraus do passadiço, recebi uma das melhores noticias que alguma vez me deram e ao mesmo tempo, aquele mesmo passadiço é testemunha de uma das minhas maiores desilusões...
Mas mais do que qualquer lembrança ou recordação, gosto daquele sitio que aparentemente não tem nada de especial, essencialmente porque me sinto bem ali, naquela zona e isso sim, é o que me importa e me faz voltar.
Há outros locais onde gosto de ir, até porque tenho por hábito procurar isolar-me quando preciso de resolver ou perceber algo, mas este é um dos que gosto mais e até talvez aquele que mais vezes fotografei.
Imagino que haja mais gente assim, que não seja o único a ter um lugar assim, preferido ou simplesmente habitual para ver a vida passar e pensar no que fazer. Se não tiverem, procurem, arranjem um. Até posso "emprestar" este meu, afinal e felizmente passam-se largas temporadas que não o visito ou sinto necessidade de lá passar...