domingo, 22 de agosto de 2010

Mamihlapinatapai : (sometimes spelled mamihlapinatapei) is a word from the Yaghan language of Tierra del Fuego, It describes "a look shared by two people with each wishing that the other will initiate something that they both desire but which neither one wants to start."

O pretexto para jantar, tinha sido a necessidade de ambos conversarem, andavam há dias a adiar o encontro e trocavam mensagens breves, numa tentativa vã de adiar a conversa e de algum modo cada um se controlar e não desvendar o que queriam dizer. No fim de jantar, enquanto falavam onde se seguiria o café, a troca de olhares indiciou que naquela noite passavam bem sem a dita bebida, que as palavras teimavam em querer sair e que se arrastavam violentamente atá à garganta, mas que se enrolavam em forma de nó e por ai continuavam. 
Ela tentou várias vezes, iniciar a conversa, começava a falar e rapidamente mudava de assunto, brincava com os elásticos, presos ao pulso, mudava de lugar no sofá e terminava as frases sempre da mesma forma: - haiii!  
Ele percebia a dificuldade e tentava ser ele a resolver a questão, tentava pegar no que restava das palavras que ouvia e tentava construir algo que embora não fosse lógico, parecesse pelo menos, tentava construir frases, procurava acima de tudo descobrir se o motivo e razão da conversa eram os mesmos. Mas pouco ou nada avançavam.
O tempo foi passando, as conversas andaram, correram até como habitual neles, sobre temas e assuntos tão distantes entre si, que mais parecia uma conversa entre pessoas desconhecidas, ora falavam do tempo, ora falavam de música ou de outra coisa qualquer.
Olhavam-se mutuamente, procurando cada um descobrir o que o outro pensava e ao mesmo tempo encorajar ou arranjar forças para ser ele a começar a tal conversa.
Mas ninguém manda no relógio e os minutos somam-se para dar lugar a horas, com a cadência certeira de que a cada 60 segundos se conta mais um. E nesse ritmo aparentemente lento, o final da noite aproximou-se rapidamente e os olhares intensificaram-se.
Já com meias despedidas feitas, finalmente sentaram-se mais próximos, afastaram almofadas e de olhos nos olhos, mais ou menos em simultâneo disseram a mesma coisa: -isto é complicado, mas é mesmo assim, se fosse fácil... mas não é! Ficamos por aqui... é melhor assim, não é?
Mesmo cada um procurando no outro uma reacção que desse força e resposta afirmativa à última questão, foi notório o alivio dos dois. As palavras que ficam por dizer, magoam mais e causam mais danos que as que se não dizem e neste caso, ambos sabiam que havia de chegar o dia em que teriam que conversar e adiar esse dia e conversa, só causaria mais angustia.
Apesar do final, saíram de mão dada até ao carro, ele levou-a a casa e deixou-a com um beijo na testa, de boa noite e de despedida...

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É curiosa a linguagem dos olhares, dizem que os olhos são o espelho da alma e que com o olhar conseguimos por vezes dizer tantas coisas, quantas as que queremos por vezes esconder.
A cumplicidade entre duas pessoas, passa muitas vezes pelas palavras que não são necessárias dizer, a sensação de total sintonia, a compreensão mutua no silêncio. Frases inteiras, são substituídas por simples olhares.

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