domingo, 29 de agosto de 2010

Acaso

Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida, e a prova de que duas almas não se encontram ao acaso.


Gosto muito de "O Principezinho", na sua forma simples de escrever e com as suas palavras e frases, que tanto tocam adultos como crianças, A. Saint-Exuperry, conseguiu construir um verdadeiro guia, uma verdadeira fonte de inspiração e com um verdadeiro toque intemporal. Há passagens e citações do livro que nos tocam todos os dias e nas mais variadas situações. Mas a sua obra não se resume ao livro.

Há algum tempo que deixei de acreditar em Deus, ou melhor num Deus único, uma entidade superior a todas as outras. Acredito que há situações que a ciência não explica e que para isso existe a fé, para que se possa acreditar ou então não. Acredito que há entidades superiores que de alguma forma nos guiam, ou nos proporcionam determinadas situações, sem nunca nos controlarem, afinal cada um de nós é responsável pelas suas acções e na mesma proporção deverá saber aceitar as consequências dessas mesmas acções.
As pessoas são seres sociais, já ouvia isso nas longínquas aulas de sociologia ou psicologia do secundário, mas é algo que por experiência própria, fui descobrindo e aceitando. É natural que as vidas das pessoas se cruzem entre si, as interacções são constantes, sendo ou não obra do destino, é algo impossível de evitar, vivendo em sociedade. Poderemos dizer que promovemos encontros e interacções com algumas pessoas em detrimento de outras, uma vez que nos associamos por gostos, por escolhas pessoais e temos por tendência a formar grupos, sub-espécies de clubes baseados em opções culturais, experiências vividas, gostos partilhados ou experiências comuns.
As iterações entre pessoas, não são muito diferentes das iterações entre átomos ou moléculas, por vezes é partilha total, outras apenas parcial e outras vezes há apenas uma breve iteração, não chega a haver troca de qualquer espécie... acho que no fundo tudo depende das pessoas envolvidas e do tipo de iteração que procuram e que conseguem ter.
É imposivel ficar indiferente a alguém que se entrega sem cobrar ou esperar algo em troca, é impossível deixar de partilhar algo nosso e aprender algo dessa outra pessoa. Seja algo bom ou até algo menos positivo, a partilha é indistinta e total. Somos o que somos, graças ás pessoas com quem partilhamos algo, independentemente do tempo e da intensidade dessa partilha. 
Acredito que nada acontece por acaso, que mesmo em sociedade, onde as pessoas se identificam por padrões comuns, as pessoas são únicas e dessa forma as suas interacções umas com as outras são igualmente distintas. Não ha duas pessoas iguais, não ha duas partilhas iguais. E como nada acontece por acaso, o verdadeiro mistério das relações pessoais, está na capacidade de descobrir o outro e de nesse processo, cada um se dar a conhecer na mesma proporção.
Já vi entrar muita gente na minha vida, deixei ou simplesmente não consegui segurar muitas outras pessoas e tenho consciência que não soube aproveitar e até merecer a sua partilha, a sua passagem, a marca que me deixou. Espero ter conseguido dar-me na proporção que recebi à maioria dessas pessoas e imagino que consegui fazê-lo com um grupo restrito de pessoas a quem posso chamar amigos.
No meio de tantas pessoas que este mundo tem, os amigos, serão isso mesmo, pessoas especiais a quem nos entregamos e que se entregam a nós, numa partilha constante e desinteressada, numa vivência comum.
Adaptado uma frase de que gosto em particular :"Quando chegamos ao fim da vida não nos resta nada, excepto as cidades que visitamos, os corpos que amámos e as canções que ouvimos", acrescento que os amigos que fazemos e as pessoas que conhecemos e com quem partilhamos alguma coisa  que seja, são igualmente importantes na marca que deixamos neste mundo.
Nada acontece por acaso, mesmo que não seja óbvia ou imediata, a razão existe. Por vezes temos que deixar o egoísmo de lado e perceber que fomos mais importantes para alguém, do que essa pessoa foi para nós e em muitas outras é necessário fazer o exercício contrário, perceber o valor e a importância que alguém teve em nós.

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