sábado, 28 de agosto de 2010






"Por grande a tentação
Que te crie a saudade
Não mates a recordação
Que lembra a felicidade"

As Regras Da Sensatez - Rui Veloso


Encontrei-te por acaso, tal como tantas outras vezes aconteceu, no meio de tanta gente acabamos por escolher o mesma zona do café.
Há já muito tempo que não te via, mas achei-te na mesma, o mesmo ar descontraído, o mesmo sorriso de miúda, o mesmo perfume e reconheci o colar, um dos teus favoritos e que por coincidência foi oferecido por mim.
Vi-te fazer sinal a alguém que só depois reconheci e senti que me guiavas para a esplanada, sobre  pretexto da música estar muito alta e quereres falar comigo. Já estávamos na treta há imenso tempo, quando vi a tua irmã sair e percebi que te procurava. Depois de uns segundos com ela, voltaste à mesa para perguntar se te deixava em casa ou se tinha planos para a noite. Disse-te que sim, que te fazia companhia mais algum tempo e que deixava depois em casa, aliás que nem pensava demorar muito, pois estava cansado por ter trabalhado ontem e hoje.
Continuamos a conversar e fizemo-lo durante imenso tempo, confesso que tinha saudades tuas, de estar contigo, das nossas gargalhadas, de te ter por perto e de te sentir assim, meiga e bem disposta. Lembrei-me de ti, de quando nos conhecemos, daqueles primeiros tempos...
A caminho do carro, começamos por dar a mão e acabamos por seguir abraçados...
Passamos pelo João e a Luísa, ali perto do jardim e não sei se foi pior a curiosidade deles, se a nossa atrapalhação, eles por nos verem e nós por estarmos juntos e irmos assim de braço dado, como chegou a ser o nosso costume...
Rimo-nos da situação e enquanto esperávamos o semáforo ficar verde, senti que encostavas a tua cabeça no meu peito e sem pensar aconcheguei-te e acabei por te beijar na testa. Um gesto tão natural e habitual há uns tempos quanto impensável desde há meses! Vi que sorriste, mas não disseste nada.
Deixei-te em casa, mas ainda estivemos mais de duas horas à conversa. Falamos de nós, das pessoas com quem estivemos entretanto, do que se passou, do que tivemos, do motivo de terminarmos, enfim, conversamos mais hoje e sobre coisas mais importantes e que directamente nos diziam respeito, do que no ultimo ano...
Na despedida, desviei-me do teu beijo e percebi que não estavas à espera e que te incomodou de alguma forma esse meu gesto, insististe em combinarmos novo café para logo, mas meio sem jeito, aproveitei a desculpa do aniversário da minha avó para recusar! Ficou no ar a ideia de combinarmos qualquer coisa depois, mais para a frente ou assim...
No regresso a casa, do que seria apenas um breve café no fim de jantar e que se prolongou pela noite e madrugada, mil coisas me passaram pela cabeça. E pelas mensagens que entretanto recebi, percebi que te aconteceu o mesmo. Revi a nossa história, sem conseguir deixar de pensar nos momentos piores, nas desconfianças levantadas, nas inseguranças geradas, nas palavras ditas e acusações feitas...
A vida dá muitas voltas, mas há momentos que não se apagam, há palavras e comportamentos que não se esquecem e tendem a ser lembrados nestas alturas e apesar de ter gostado de te ver, de ter saudades tuas e de me ter sentido mito bem contigo...há demasiadas feridas, aconteceram demasiadas coisas e curiosamente não passou tanto tempo assim, parece tudo tão recente!
Sei que nos vamos voltar a encontrar e qualquer dia será certamente um bom dia para isso acontecer, mas teremos que construir uma nova história, começar com algo diferente, deixar resolvido o que já tivemos e não soubemos manter. Passou demasiado tempo...

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