quinta-feira, 7 de maio de 2009

Vidas tão diferentes que se cruzam de vez em quando...

Mesmo numa cidade como Braga, onde habitam cerca de 150 mil pessoas e onde não há o bairrismo de outras cidades, é relativamente fácil "conhecer" ou melhor re-conhecer uma cara conhecida e passar por ela um sem numero de vezes, seja ela vizinha ou não. Ainda mais se as pessoas em questão aparentarem ter mais ou menos idades parecidas.
Se a tudo isso juntarmos as coincidências e os acasos da vida, os encontros podem ser quase "combinados", seja porque se escolhe a mesma hora para dar um salto ao hipermercado, seja porque se frequenta a mesma padaria, seja porque se vai ao mesmo café ou até porque os dias em que escolhemos para caminhar ou levar as coisas ao ecoponto, coincidem.
Desde há já algum tempo que em diversas situações e ocasiões, que frequentemente "encontro" uma miúda, que descobri ser quase minha vizinha e que mesmo sem saber o seu nome ou ter-lhe dito o meu, numa espécie mista entre a boa educação e o hábito e até o ser quase natural, sempre que nos cruzamos dizemos olá, sorrimos ou simplesmente retribuímos o abanar de cabeça e o sorriso, numa combinação de gestos que substituem as palavras.
Não sei dizer quem disse o olá primeiro, mas o "oi" dela é engraçado, talvez da pronuncia ou sotaque típico dos Brasileiros, talvez pela naturalidade com que lhe sai, não sei, sei que é um "oi" meio que arrastado, meloso, mas ao mesmo tempo, (parece-me pelo menos) genuinamente simpático.
Já nos cruzamos em diversas situações e a julgar pela aparência, seria apenas mais uma jovem, talvez não tenha sequer 25 anos, mas não sei, nunca fui muito bom a adivinhar idades, mas as sapatilhas ou as sandálias, as t-shirts com desenhos engraçados e os calções ou calças de ganga reforçam essa ideia de juventude.
Há instantes, quando regressava do ritual do café no fim de jantar, voltei a vê-la, estava à porta de uns prédios aqui vizinhos e aparentemente estava à espera de alguém. Ao passar por ela, houve o habitual sinal, o olá e o sorriso e como sempre nada mais do que isso, eu atravessei a estrada e ela continuo a baloiçar-se nos sapatos de tacão e a fazer o mesmo com a mala que trazia.
Já estava eu do lado de cá da estrada, quando parou uma carrinha, uma normal carrinha de 9 lugares, com a particularidade de ser conduzida por um homem e vir cheia de mulheres, todas elas vistosas e com ar produzido. A carrinha parou e no mesmo instante que a porta da frente se abriu, voltou a fechar-se e a carrinha seguiu, mas já com a miúda, que até então esperava baloiçando-se no salto dos sapatos e que me tinha dito "olá", como habitualmente o faz, quando passamos um pelo outro, no seu interior.
Subi as escadas para casa e só nessa altura associei, desta vez não estava com calças de ganga ou calções, não tinha as sandálias ou as sapatilhas e muito menos tinha vestida uma das t-shirts engraçadas, mas sim um vestido justo, decotado e acho que bastante curto também.
Ou seja, é mais uma das "miúdas da noite", das muitas que a cidade de Braga, "emprega" nos bares e casas da região, uma das muitas "miúdas da noite" que diariamente, "apanham" o transporte comum a muitas outras, até ao local de trabalho e que fazem o percurso de regresso ao final da noite/inicio de dia, nas mesmas carrinhas.
Não pude deixar de pensar, no diferente que podem ser as vidas das pessoas com quem nos cruzamos na rua, diariamente, nas rotinas banais do dia à dia. Podem ser vidas tão diferentes como estas nossas...

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