terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Descobri que ainda te trago comigo...

"Passou um dia e depois outro e outro, somados deram uma semana. Passou uma semana, depois outra e outra e somadas, deram um mês...
E depois passou mais um dia e outro e o tempo não pára. E são evidentes as marcas desse tempo que não pára, as árvores quase já não apresentam folhas e as que permanecem com folhas, há muito que mostram uma cor castanha, amarela ou mesmo tons vermelhos, bem diferentes dos tons verdes que apresentavam...
Há dias em que ao acordar, só desejo que a noite chegue rapidamente, desejo que tudo passe rapidamente, que o tempo me faça esquecer-te, que te leve dos meus dias, já que parece que não te consegue trazer.
Sei que não não voltarei acordar ao teu lado, dificilmente te poderei voltar a contar os meus sonhos e projectos e isso ainda me custa aceitar. Ver-te ou deixar de te ver, é quase igual, basta-me fechar os olhos e consigo ter-te tão próxima, que quase que sinto o teu coração, quase que te sinto e é como se estivesse outra vez, com a cabeça no teu peito atento ás batidas e ao ritmo acelerado da tua pulsação. Se continuar de olhos fechados, consigo ver-te as costas, a cicatriz do joelho e até os sinais em forma de triângulo do teu ombro direito. Sem esforço, oiço o som do sino que trazes pendurado no piercng do umbigo e que tantas vezes me arranhou...
É mais difícil, mas mesmo assim, com algum esforço, consigo sentir a força das tuas unhas, ainda a cravarem-se em mim, a voz rouca dos sussurros e o riso fácil, logo de manha.
Ouvir-te dizer que ias embora, ficou de tal forma gravado, que ainda acordo a sonhar que me estás a dizer isso pela primeira vez, acordo e corro até à sala e como não te vejo, imagino-te já na porta de entrada, vejo-te com as malas, os sacos e vejo lágrimas e um sorriso forçado a dizer : cuida.te... pela ultima vez.
Há dias complicados, em que as memorias aparecem de todo o lado, da senhora da padaria quer pergunta por ti, da vizinha do 2º que tem um casaco como o teu, do carro branco que está sempre frente ao café, que não é como o teu, mas que tem o mesmo autocolante na porta, ou nem indo mais longe, cá em casa, quando pego nas tuas bolachas de fibra ou encontro mais um dos teus recados espalhados pela casa ou com a data das coisas no frigorífico.
Fazes-me falta. Sinto-te a ausência. Mas já passou mais um de mês e nada de novo, não voltei a ver-te, não voltei a ouvir-te e se não fossem as minhas memorias, seria como se nunca me tivesses conhecido...
Há dias em que ao olhar o por do sol, o primeiro pensamento é na esperança que com a noite as lembranças tenham ido de vez e que ao acordar volte a ser a pessoa que era... porque há muito que não sou o mesmo, vivo de esperança, de lembranças, de sinais errados e frases mal decifradas..."

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