sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

De vez em quando procuro ler textos antigos que escrevi e pensar no que mudou, no quanto mudei, nem sempre gosto das respostas que encontro, nem sempre gosto de me ver à distancia e confirmar que tudo é igual ou que tudo é diferente...
Este é mais um texto, dos que recuperei do antigo blog... e é curioso que podia ter sido escrito hoje... e no entanto já é de Abril de 2008!!!

"Desculpa se te fiz fogo e noite
Sem pedir autorização por escrito
Ao sindicato dos deuses...
Mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
Como refúgio dos meus sentidos
Pedaço de silêncios perdidos
Que voltei a encontrar em ti..."

Carta - Toranja

Nos breves momentos de lucidez que consigo atingir, entre noites que não consigo dormir descansado e os dias que passam de uma forma acelerada sem que consiga perceber um mínimo dos mínimo do que se passa comigo, descubro-me nas asneiras e identifico-me nos erros que às vezes aponto, refiro e revelo.
Sou um eterno errante, apaixonado pela vida, que sonha com um mundo perfeito de loucos como eu, onde me possam entender sem que surjam duvidas, más interpretações ou que fiquem com um pé atrás na defensiva.
Esqueço-me que a maior parte das pessoas, funciona ao contrário de mim : são mais racionais, mais ponderados e controlam-se, para que a insanidade não se revele...
eu sou um pouco diferente, o meu mundo é ideal, as consequências vão pouco além de mim do que possa sofrer, pois sou sincero e nunca minto a ninguém.
Eu podia quase ser um Alberto Caeiro dos tempos modernos, tivesse eu arte e engenho para domar as palavras e organiza-las em frases que traduzissem sempre o que sinto e seria poeta. Como me falta esse dom e vivo num caos reorganizado por tipos de confusão, fico-me pela brincadeira com as palavras , um pensador e amante da vida simples, do campo e das pessoas.
A prova dessa minha inconstância está aqui, nesta minha desorganização, na incapacidade de me manter fiel à linha de um pensamento e escrever, escrever muito, andar às voltas, esquecer-me do assunto principal, do que quero dizer.
Falava dos momentos de sanidade, pequenas pausas lúcidas , de uma mente que vive a altas rotações, que sonha enquanto fala, enquanto vive, enquanto olha nos olhos das pessoas, enquanto respira. Falo das pausas em que baixo a defesa e me torno o mais normal dos normais e deixo de lado a máscara, que a insegurança de não ser percebido, me leva a colocar, baixo a guarda e sou um simples dos simples, não mais, nem menos que qualquer um. E é nesses momentos que penso, que me avalio e me julgo, que controlo a insanidade que toma conta de mim na maioria das horas e descubro todos os erros que cometo, muitos dos quais, descubro nos outros...
E aproveitando, estes instantes, antes que fraqueza e a cobardia, me controlem durante mais uns minutos, peço-te desculpa, por te ter visto como eu sou, por te querer igual a mim, por pensar que poderias querer estar no mundo como eu estou, por sonhar que poderias ser... o que não és, ou que não queres ser... e acima de tudo, peço desculpa de não te conseguir ver como és, como sempre foste e como quero que continues a ser.
Esqueço-me que esta forma de estar não é vida para todos, talvez só para quem já saiu magoado e sentiu na pele o quanto custa ser abandonado, trocado, esquecido, ignorado e conseguiu esquecer, ultrapassar e voltar acreditar que há gente sincera, a confiar quando lhe dizem que falam verdade e os seus olhos confirmam. Mas para isso é preciso tempo e paciência, talvez não esteja ao alcance de todos...
E neste instante em que a insanidade volta a dar sinal de si e me pede para sentir a textura do papel e o cheiro a tinta da caneta, mesmo que esteja com o teclado entre mãos, aproveito e resisto um pouco mais, para te dizer, continua a ser como és...

Sem comentários: